08/01/2008

Pais separados, boca calada!

Separação não é um assunto muito agradável. Mas já virou lugar comum. Há algumas décadas as pessoas separadas sofriam pelo preconceito e, principalmente as mulheres, eram mal vistas e de certa forma banidas do convívio com outros casais.
Meus pais se separaram em 1965, quando eu estava com apenas cinco anos. Eu não questionava muito aquela situação, até porque meu pai vinha diariamente nos ver. Mas eu sabia que ele e minha mãe não moravam juntos e não fazia muitas perguntas sobre isso. Naquela época, não era tão comum encontrar casos iguais ao meu, portanto este assunto eu excluía das conversas com minhas coleguinhas.
Durante os onze anos que estudei na mesma escola (Colégio Assunção), mantive uma amizade pura e fiel com minha querida Angela. Menina branquinha, com traços lindos de rosto, sardas e o cabelo igual ao meu: comprido e liso. Angê, como eu a chamava, e eu formávamos uma dupla inseparável. Éramos parceiras em brincadeiras e aprontamos algumas boas, nos divertíamos em festas e tínhamos um convívio intenso, freqüentando uma a casa da outra.
Mas somente na oitava séria, quando tínhamos em torno de quinze anos, tivemos coragem de assumir que nossos pais eram separados. Nem ela nem eu abrimos o jogo durante dez anos, com medo de ficar em desvantagem. Nem mesmo nossa fiel e profunda amizade foi suficiente para amenizar a vergonha e o incômodo de assumir os lares desfeitos, numa época em que o preconceito ainda reinava. E por fim, já um pouco mais maduras, ficamos aliviadas por contar nosso segredo. E, ao compartilhar da mesma dor, nos sentimos confortadas, o que acabou nos trazendo mais afinidade e cumplicidade.
E para provar que amizade rompe fronteiras, ainda hoje mantenho contato com Angela, por quem tenho muito carinho. São 42 anos em que, apesar de não nos vermos, entre uma ligação ou outra e alguns e-mails, nos fazemos presentes uma na vida da outra.
Mesmo se tornando fato corriqueiro, separação ainda não é assunto agradável. Eu mesma já precisei passar por isso duas vezes. Mesmo tendo sonhado manter uma relação duradoura. Mesmo querendo levantar a bandeira da família estável e segura, não foi possível mudar meu destino. Nem sempre as coisas acontecem da forma que gente planeja.
E o maior cuidado tem que estar na forma que se conduz os filhos. Toda criança ainda passa pela dolorosa fase de adaptação, pela sensação de perda e a dificuldade em aceitar. Mas, cabe a nós, mães e pais, fazer o máximo de esforço para continuar fornecendo um lar estável e seguro e preservar a importância e o sentido amplo da palavra família. A base de tudo. Espero, sinceramente, ter cumprido minha missão de forma adequada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Betty,como é bom lembrar de nossa amizade e dos bons tempos do Colégio Assunção.O tempo passa mas a nossa amizade verdadeira permanece.Beijos,Angela.