23/01/2008

A Fotografia nossa herança

Meu avô paterno era fotógrafo profissional. Na casa onde morávamos, ele construiu um estúdio com um grande fundo infinito e um laboratório, onde revelava seus filmes. Assim, durante muitos anos, acompanhei bem de perto o trabalho que ele realizava. Um de seus melhores clientes era a Avon. Sabe os catálogos que as consultoras utilizam para vender os produtos? Pois era o que ele fazia. Mas como estamos falando de outra época, as fotografias destes catálogos eram bem artesanais, com cenários rebuscados e efeitos criativos.
Quando ele recebia os desenhos que deveria seguir, iniciava seu trabalho meticuloso e cheio de artimanhas. Muitas vezes acompanhei a dificuldade para criar cenários rebuscados como, por exemplo, uma praia, areia e conchas espalhadas, ou espuma e bolhas flutuando no ar, ou frascos de perfumes totalmente inclinados, como se estivessem apoiados só pelo cantinho do vidro. Cada uma delas era um novo desafio. Depois da colocação dos cosméticos, a minuciosa preocupação com luz, com reflexos e por aí vai.

Na verdade meu avô era realmente um artista. Não só esculpia suas fotografias, como era um excelente pintor. Os quadros que ele deixou, em óleo, guache e aquarela, são ricos em detalhes com pinceladas muito delicadas. Era como fazer uma fotografia com a ponta do pincel.
Tenho em casa algumas de suas obras, como esta ao lado, que ornam minhas paredes e mantém a lembrança daquele que foi meu segundo pai.
A grande coleção de fotografias que eu e meus irmãos temos de nossa infância são graças aos olhos azuis de nosso vô Arturo que não negava cliques.

E o gosto acabou nos contaminando. Meu pai, que durante muitos anos ficou no segmento de propaganda, chegou a trabalhar no estúdio com meu avô e até hoje é ótimo na câmera. Meu irmão do meio tornou-se também fotógrafo profissional, atuando no segmento da propaganda. E eu, desde os 16, também adoro levar minha máquina para registrar os momentos importantes. É uma pena que meu avô nem chegou a conhecer as máquinas digitais. Com certeza ele se esbaldaria com tanta tecnologia e com a nitidez de imagem no resultado. Mas, quem pode saber se, em outra dimensão, ele não está ainda fotografando anjos e nuvens...

Um comentário:

Ani Cires disse...

Tinha q ser um artista mesmo naquela época q nem se imaginava o que seria camera digital, computador e photoshop. Adoraria que ele estivesse aqui hoje para me passar seus conhecimentos de arte. Mas as obras que ele deixou transmitem muito e mostram que a perfeição dele vinha dos mínimos detalhes. Um super artista! Acredito q deve estar fotografando anjos, pintando nuvens e seduzindo estrelas.